Introdução
Neste texto, você poderá encontrar a definição do conceito de representações sociais, sua relação com a construção do conhecimento e também com a ideia de construção social da realidade. A partir da discussão aqui apresentada, será possível entender porque não é possível pensar o ser humano como determinado unicamente pelas forças sociais ou como um ser dotado de uma liberdade tamanha que não se sinta influenciado por elas.
A Impossibilidade da Neutralidade: a realidade como produto de intermediações
Como já comentado neste outro post, a realidade é construída de maneira social. Falar isso, significa que aquilo que entendemos como real não pode ser acessado diretamente, deste modo, experimentamos a realidade a partir de categorias subjetivamente e historicamente formadas. Apesar de indivíduos que possuem particularidades próprias, nós somos entidades sociais que apontam para as características dos grupos que fazemos parte, em outras palavras, são as "lentes" de nossos grupos que moldam a maneira como vemos o mundo que nos cerca. Essas "lentes" remetem diretamente a ideia de representação social, um fenômeno que tem lugar entre a interface individual e coletiva.
Mas, o que são Representações Sociais?
Representações Sociais são modalidades de conhecimento prático orientados para a comunicação e para a compreensão do contexto social, seja ele material ou ideativo ( do campo das ideias) que vivemos. Elas se manifestam como elementos cognitivos - imagens, conceitos, categorias e teorias - mas não apenas isso, pois elas são socialmente elaboradas e compartilhadas, contribuindo para a construção de uma realidade comum através dos processos comunicacionais que a permeiam.
Características das Representações Sociais
Como qualquer outro fenômeno, as representações sociais possuem características particulares. Assim, sabendo que elas servem para orientar a compreensão e a comunicação e que emergem como elaborações dos sujeitos sociais - os quais podem ser tanto indivíduos quanto grupos inteiros - é possível perceber as seguintes características:
eventos intra-individuais: as representações estão ligadas a processos de cognição e consciência do mundo
elementos comunicacionais: todas as representações se apresentam como um repertório público que possibilita a comunicação e a interação
elementos coletivos: representações ligam-se a elementos coletivos que são repetidamente comunicados e distribuídos em socialmente, formando então o que se convenciona chamar de representações (padrões) culturais.
Isso leva diretamente a ideia de que as representações enquanto formas de conhecimento estão orientadas em uma espécie de dupla tarefa: apreender a realidade e permitir a ação sobre ela.
Representações Sociais: apreendendo o mundo e agindo sobre ele
A dupla tarefa das representações sociais se configura da seguinte forma: primeiramente, a representação social deve ser entendida como a reprodução daquilo que se pensa, isto é, como a maneira que se apreende a realidade, o que vai implicar dizer que o conhecimento, seja qual for, se manifesta como uma construção social, pois está sujeito a determinação sócio-histórica. Segundo, as representações sociais também se relacionam com a ação, pois possuem implicações práticas, ou seja, é a partir da nossa apreensão do mundo que encontramos os instrumentos necessários para agir sobre ele, o que implica dizer que é através daquilo que pensamos sobre o mundo que nos engajamos em nossas identidades sociais, negociando as regras das interações enquanto protagonizamos relações sociais.
As representações sociais, portanto, encerram uma forma comprometida, compartilhada e negociada de interpretar a realidade. Isso acontece porque as representações sociais articulam elementos afetivos, mentais e sociais, ao mesmo tempo que integram a cognição, a linguagem e a comunicação às relações sociais, sendo, neste processo, afetadas e afetando todos os componentes já citados, os quais compõe nossa realidade material e simbólica.
O Indivíduo e as Representações Sociais
Neste sentido, no que consta ao indivíduo, podemos entender que ele está situado e imerso no processo histórico, muito embora isso não signifique que é determinado por ele, possuindo assim dentro dele a possibilidade de agir criativamente, bem como expressar-se emocionalmente a partir do repertório social que é trazido para ele por este mesmo contexto histórico. Em suma, em um indivíduo, as representações sociais interligam um modo de pensar, um modo de agir e um modo de sentir. Elas então se relacionam com o imaginário social (a produção cultural que permeia uma sociedade nas mais diversas esferas), com a cosmovisão (a visão histórica ou o modo de interpretação, dado no tempo, de um povo entender a si mesmo, os outros e os fenômenos que o cercam) e ao habitus (o conjunto de práticas mais ou menos internalizadas que sintetizam interpretações grupais que remetem ao imaginário social e a cosmovisão).
Representações Sociais como Processos Estruturantes
Por fim, as representações sociais por tudo que foi comentado podem ser entendidas também como processos práticos na criação e manutenção de uma ordem social. Em relação a isso, elas possuem a função de orientar condutas e a comunicação, de proteger e legitimar identidades sociais e de operar a familiarização dos elementos novos e estranhos a partir do repertório de experiências e conhecimentos já existentes. Essa apreensão do incomum pelo familiar se dá através dos processos de ancoragem, isto é, domesticação daquilo que é novo e de objetificação que pode ser definido como o processo pelo qual algo se naturaliza e passa ser tomado como possuidor de um caráter externo.
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