Introdução
Gênero e sexo não são a mesma coisa. Gênero trata das diferenciação social entre homens e mulheres, as quais são resultados de construções sociais e culturais sobre o sexo biológico. O gênero é composto dos sentimentos, das atitudes e dos comportamentos atrelados culturalmente aos sexos biológicos. Falar de gênero é falar sobre uma das muitas formas que marcam a maneira como organizamos a vida em sociedade. Dessa forma, trata-se de problematizar o processo de justificação das relações de poder e dos processos de identificação que são naturalizados a partir das características biológicas.
Porque estudar sociologicamente o gênero?
O estudo do gênero permite compreender o que nos torna homens ou mulheres. Como se constrói nossa identidade de gênero, isto é, nossa identificação e pertencimento com um sexo em particular e como executamos os papéis de gênero comumente esperados, ou seja, as expectativas amplamente compartilhadas acerca de como devemos agir enquanto homens ou mulheres.Perceber como aprendemos esse papéis de gênero durante os processos de socialização. Por fim, apontar o gênero como um condicionante da posição social, gerador e mantenedor de desigualdades sociais produzidas a partir de como a diferenciação social entre os homens e as mulheres é concebida na sociedade.
Teorias Sociais Sobre o Gênero
Existem dois campos teóricos gerais nos estudos sobre gênero, os quais são:
O Essencialismo: essa corrente percebe as diferenças entre gêneros como um reflexo da evolução de disposições naturais. O gênero é parte da natureza de nossa constituição biológica. São exemplos do essencialismo: o entendimento freudiano da determinação das diferenças de gênero pelas diferenças anatômicas e a perspectiva da sociobiologia e da psicologia evolucionária que afirmam que as diferenças comportamentais de gênero estão fundamentadas em diferenças biológicas entre mulheres e homens, justificando comportamentos como violência sexual, promiscuidade masculina e estereótipos femininos depreciativos. Críticas: as teorias essencialistas ignoram as variações históricas e culturais de gênero e sexualidade; generalizam a partir da média características que não apresentam polarizações explícitas (ex. a agressividade); não existem evidências empíricas que apontem como verdadeiras as ideias essencialistas; as explicações essencialistas ignoram o ingrediente do poder nas relações de gênero e naturalizam desigualdades.
Construtivismo Social: essa corrente entende que o gênero é construído por meio de influências sociais. Meninos e meninas aprendem papéis relacionados com seus sexos a partir do processo de socialização. Esses papéis de gênero são mantidos e reforçados no decorrer da vida cotidiana. Desde a socialização primária, meninos e meninas são tratados de forma diferente: meninos são levados a enfatizar em suas brincadeiras a agressão, a competição, a manipulação espacial e as atividades ao ar livre; garotas são orientadas a enfatizar o cuidado, a aparência física e as atividades em espaços fechados. Apesar disso, crianças tem papel ativo na construção do seu gênero, negociando, interpretando e resistindo aquilo que é apresentado para elas, o que permite a conclusão que o gênero é construído e não imposto socialmente ou dado de forma natural. O que nos leva a ao conceito de ideologia de gênero e ao impacto do gênero na corporeidade.
Ideologia de Gênero é o conjunto de ideias inter-relacionadas acerca do que constitui papéis e comportamentos femininos e masculinos adequados. Geralmente, sedimentamos nossas ideias sobre gênero na adolescência. A maneira como entendemos o gênero e como nos entendemos a partir da nossa identificação com o gênero é bastante importante para a construção da nossa carreira social e nossa biografia.
Corpo, Mídia e Gênero: a construção do gênero não se limita unicamente ao ambiente da socialização primária. Ela é reforçada através da interação social e também da interação com os meios de comunicação. Os meios de comunicação são responsáveis pela cristalização de determinados papéis, reforçando a normalidade dos papéis de gênero tradicionais. O reforço em estereótipos de gênero são tão impactante ao ponto de modelarem corpos, marcando-os com padrões impossíveis de serem alcançados, possibilitando a construção de um mercado de intervenção estética e o surgimento de uma série de transtornos mentais e físicos relacionados a construção de um corpo belo e perfeito.
Concluindo
As identidades de gênero e os papéis relativos a ela são dados historicamente e culturalmente. Não somente isso, eles também são negociados em um processo interativo onde o ator social e aqueles que o influenciam se encontram em um complexo arranjo de negociação. Os processos de socialização definem os papéis legítimos para homens e mulheres. Esses mesmos papéis são reforçados nos mais variados espaços e artefatos sociais, inclusive moldando nossa relação com o corpo, nossa carreira social e por conseguinte nossa biografia.Por fim, o gênero é um importante ingrediente de nossas interações sociais. Ele estabelece padrões que nos guiam quando nos colocamos em interação com outras pessoas. Esses padrões, inclusive, podem naturalizar desigualdades, bem como violência.
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