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DESIGUALDADE NO TRABALHO: QUESTÃO DE GÊNERO


Introdução

Já estudamos como o trabalho foi visto nos sociólogos clássicos e percebemos que ele ainda é fundamental - e na verdade sempre foi - para a organização social. Também podemos pensar como trabalho e desigualdade se relacionam e de que forma isso se processa dentro do capitalismo através da polarização de atividades e da promoção de um conflito entre o ser, o ter e o fazer.  Agora, nós estudaremos como essas desigualdades se manifestam no que os sociólogos chamam de gênero, isto é, as diferenças sociais de homens e mulheres

As Mulheres e o Trabalho 

De acordo com os estudos sociológicos, se faz possível dizer que nem sempre as mulheres possuíram as mesmas ocupações, mas sempre desempenharam funções diferenciadas em relação aos homens. Portanto a divisão sexual do trabalho é um fenômeno e um dado de relevância para entender como o fenômeno do trabalho se desenvolve na história. Além disso, essas atividades apontam para uma hierarquização no trabalho, no que toca ao seu prestígio e também ao local de sua execução, neste sentido, mulheres estariam sempre ligadas ao ambiente doméstico e a atividades menos prestigiadas e remuneradas, ao contrário dos homens. A tabela abaixo, apresenta de modo panorâmico essa realidade.

Antiguidade
Trabalhava na esfera doméstica para manutenção e subsistência de homens e crianças
Idade Média
Mulheres solteiras trabalhavam na lavagem de roupas e na tecelagem. As mães eram encarregadas dos filhos. As de meia-idade tomavam conta dos adolescentes, da cozinha e outros afazeres domésticos. As camponesas trabalhavam na agricultura e nas tarefas domésticas
Século XV-XVII
As mulheres trabalhavam no comércio. Exerciam as funções de vendedoras ambulantes, além de amas e lavadeiras. Trabalhavam também na manufatura, nos ramos da seda, de ferragens, olarias e objetos de metal
Século XVIII
Com a revolução industrial ocorre uma nova divisão sexual do trabalho. Forma-se o proletariado feminino, que trabalhava na fábrica e no trabalho doméstico
Século XIX e Início do XX
Parte das mulheres se torna restrita aos deveres familiares. Com a intensificação do desenvolvimento industrial mulheres protagonizam a chamada dupla jornada. Quando solteiras, por um tempo podiam vir a trabalhar, após o casamento tendiam ao abandono dos empregos, retornando a eles quando o salário do marido era insuficiente.
A partir de 1970
Ampliação da inserção da mulher no espaço produtivo industrial, de serviços, no comércio e no sistema financeiro. As tarefas domésticas ainda estão restritas à mulher e a família configura-se como ainda predominantemente patriarcal. Por fim, divisão sexual desigual no mercado profissional
Atualmente
Avanços dos direitos das mulheres, sobretudo a partir das últimas décadas do século XX, mas ainda não há igualdade plena. Mulheres ocupam ainda postos de trabalhos mais precários e desigualdades diversas se mantêm

As Características das  Mulheres no Trabalho Contemporâneo

Embora a situação das mulheres no mundo do trabalho tenha melhorado, ela ainda não se apresenta como resolvida. Pois, as seguintes características ainda marcam a trajetória trabalhistas das mulheres no mundo e no Brasil. Elas possuem uma escolaridade média de 7,3 anos enquanto a dos homens é 6,3 anos, apesar disso sofrem desvantagem na remuneração. Vivenciam a dupla ou tripla jornada:, isto é, protagonizam uma rotina marcada pela vida profissional, pelo trabalho doméstico e muitas vezes por vida de estudos. ( Em uma comparação entre homens e mulheres empregados e o trabalho que faziam no lar, a taxa era de 89,4% das mulheres para 47% dos homens)

Além disso, a condição como mulher é utilizada para tipificar profissões como femininas. Embora em qualquer profissão as habilidades correspondentes possam ser desenvolvidas por qualquer um independente do sexo. A divisão sexual do trabalho portanto é dada através de construções históricas. Por fim, mulheres ainda ocupam poucas posições de chefia e comando, embora isso tenha se modificado mais. De modo geral, o desemprego ainda é maior entre mulheres do que entre homens, chegando em 56,7% do número geral de desempregados, dentre todas as estatísticas as condições das mulheres negras são ainda mais substancialmente piores.

As Mudanças no Trabalho

Parte dos ganhos históricos da mulheres no mundo do trabalho são frutos das lutas do movimento feminista, o qual tem como grande pauta a igualdade entre homens e mulheres em todos os âmbitos da vida. A partir da luta pelos direitos iguais, as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço e a concepção de uma desigualdade natural entre os sexos tem pouco a pouco sido superada. As duas grandes guerras também foram fundamentais para a inserção da mulher no mercado de trabalho, pois, elas levaram a redução da força de trabalho masculina. Por fim, também se pode citar o controle de natalidade e a possibilidade de planejamento familiar, bem como a independência sexual da mulher como elementos contribuidores da sua condição como membra ativa do mercado de trabalho.

Para saber mais sobre gênero e trabalho




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