Pular para o conteúdo principal

O Conceito de Interação Social


Introdução

No texto abaixo, você poderá compreender porque não é possível pensar organização social e sociedade sem que haja interação entre os indivíduos. A interação é fundamental para a constituição o ser humano para si e para o outro, se apresentando dessa forma como um dos principais objetos da sociologia. 

O que é interação social?

A interação social é o processo social primordial que sustenta a sociedade, cultura e bem-estar pessoal. A partir da interação, os seres humanos produzem cultura, constroem e sustentam estruturas sociais e nos ligam uns aos outros. 

Como e porque ocorre a interação social?

De modo bastante simples, a interação pode ser entendida essencialmente como a emissão de sinais e gestos, o quais não necessitam ser simbólicos para existir. Isto significa que, por exemplo, animais podem interagir sem necessariamente atribuir significações a determinadas ações.  Os seres humanos, por sua vez, interagem de modo único e especial. Em resumo, nossa interação é simbólica porque os sinais que utilizamos significam a mesma coisa para quem envia e para quem recebe. Além disso, é a capacidade de ler gestos simbólicos que permitem que se absorva papéis, o que, por sua vez, está relacionado ao meio pelo qual nos ligamos dentro da cultura, dos valores, crenças e normas. 

A interação e a apresentação do eu 

Todos nós estamos envolvidos quando interagimos em um contínuo processo de leitura de gestos e execução de papéis. Esse processo ocorre tanto na realidade em vigília, quanto também mentalmente de modo que nos permite imaginar as diversas consequências das mais variadas ações e reações. Em todas as situações, nós prezamos por obter uma imagem de nós mesmos e apresentar para cada situação em particular uma imagem estável, íntegra e digna de nós mesmos. Nós moldamos nossos comportamentos de modo a gerenciar essa apresentação e não frustrá-la. Neste processo, nós seguimos regras e nos conduzimos de forma apropriada de modo a sustentar a apresentação do nosso eu e por consequência a realidade social. Durante a interação, utilizamos uma série de adereços físicos, espaciais e sociais ( tais como roupas, objetos que compõem um cenário e o próprio corpo) para mantermos nossa fachada, isto é, uma imagem correta e intencional sobre nós mesmos que inspira no outro  uma determinada conduta moralmente válida de acordo com a situação interacional na qual nos engajamos.

Na sociedade, nos comportamos de modos previsíveis e, devido a  coerência decorrente disso, os outros atores sociais harmonizam suas reações, ações e comportamentos. De certa forma, administramos as emissões de gestos, nos revelando como um certo tipo de pessoa que espera das demais um certo tipo de conduta proporcional e específica, conforme aquilo que revelamos. A interação portanto se revela como um palco onde nos sustentamos enquanto atores da sociedade e performatizamos nossas identidades sociais, de modo a não apenas nos mantermos como personas sociais integrais, mas também mantermos a própria realidade que surge, se mantém e possibilita as mais inúmeras formas de interação.


 Molduras da interação social

Em uma interação social, as possibilidades de sentido são muito diversas e se em cada situação tivéssemos que buscar um sentido para elas, gastaríamos muita energia. Para evitar esse tipo de coisa, todos os seres humanos utilizam dos seus gestos e adereços para enquadrar suas interações, isto significa que criamos molduras simbólicas com nossos gestos, indicando o que é relevante e o que é irrelevante para a interação social. O processo de emolduramento é feito de forma involuntária, criamos as molduras para nos guiarmos e guiarmos os outros de modo a sustentarmos e focarmos nossa atenção no que deve ser entendido por mim e por aqueles em interação comigo como realmente importante.  As molduras são dinâmicas e podem ser trocadas e reencaixadas de acordo com as demandas interacionais específicas de cada situação, por fim, elas também podem ser sobrepostas, conforme as dinâmicas interacionais. 

A interação é assentada e transpassada por molduras, as quais funcionam como focos para nossa ação dentro das situações e encontros sociais. Os processos de enquadramento estão ligados aos nossos repertórios de experiência, os quais nos permitem adquirir o discernimento necessário sobre os significados dos gestos na interação. No fim das contas, as molduras nos permitem facilmente determinar o que é apropriado e esperado para uma situação, de modo que passamos a atuar com segurança e garantia de que nos preservaremos enquanto atores sociais e não sofreremos nenhuma censura ou rotulação negativa, sendo considerados impuros e indignos socialmente. 


Rituais de interação

A interação humana é profundamente ritualizada. Quando interagimos estamos comprometidos com um comportamento altamente estereotipado. Muito embora conforme a intimidade aumente a intensidade dos esteriótipos tenda a diminuir, as interação sociais entre pessoas mutuamente estereotipadas apresentam alto grau de ritualidade. A ritualidade é importante porque concede uma sensação de linearidade para as interações do tecido social. A ritualidade das interações está muito ligada a situações onde pessoas estranhas ou com status muito diferentes precisam interagir, desse modo, elas servem como forma de minimização da tensão consequente de encontros marcados por desigualdades. Os rituais são essenciais para a interação por que permitem a conservação da nossa apresentação e a manutenção de nossa dignidade ao mesmo tempo que reforça através da polidez e da educação requerida por suas regras os sentimentos de pertencimento e integração social. Além disso, por meio dos rituais, organizamos o fluxo de nossas interações, estruturando-as em blocos de sentido, dessa maneira é possível falar de rituais de abertura ( olá tudo bem?) e fechamento interacional ( até logo), bem como de reparo de rupturas e rituais de sequência para a conversa (interessante, fale mais sobre isso...)

Ordem e interação

Não seria possível pensar em ordem social sem que existe as regras e os rituais de interação. A sociedade só existe e se mantém relativamente unida porque interagimos uns com os outros e nesse processo criamos um universo de símbolos culturais e estruturas de grande porte que limitam o que podemos fazer quando encaramos outros. As nossas interações sociais portanto são responsáveis pelo fortalecimento das organizações sociais e culturais. É exatamente porque nos auto-organizamos na menor das estruturas sociais - a interação - que podemos construir estruturas mais amplas e sistemas de símbolos que nos orientam e nos apresentam o mundo enquanto uma realidade auto-evidente. 

Aprenda mais sobre o conceito de interação social 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Juventude: uma invenção social

Introdução Neste texto, você poderá entender a razão pela qual a sociologia se interessa pela juventude. Nas próximas linhas, encontrará as razões pelas quais não se pode entender conceitos como adolescência e juventude fora da alçada dos fenômenos sociais, com isso, perceberá que natureza e cultura estão implicados na constituição do ser humano de uma maneira que muitas vezes não temos consciência.  Porque Pensar a Juventude Sociologicamente? Pensar a juventude a partir do olhar sociológico é importante porque ela nos dá indicações de como nos associamos, do que procuramos enquanto seres sociais nos grupos que formamos. Isso significa por exemplo que através dela é possível pensar como lidamos em diferentes épocas com questões existenciais tais como segurança, partilha, apoio social e valores . Portanto, problematizar o conceito de juventude nos permite pensar a relação com o tempo, no que consta a questão geracional e o contexto social que cada geração se insere. N...

Trabalho e Desigualdade

Introdução O Indivíduo e a Sociedade protagonizam uma relação de influência mútua. No decorrer do tempo, essa relação mudou, apresentando-se  de diversas maneiras, parte dessas transformações se relacionam com a forma que concebemos o trabalho Na contemporaneidade, vive-se uma polarização entre bons emprego e maus empregos, o que aponta para o fato de o trabalho poder criar um conflito entre o ser, o ter e o fazer. Essas características decorrem dos problemas históricos do surgimento do capitalismo e sua racionalidade que preza pelo aumento da produção em menor tempo e com menos recursos. Sabendo o trabalho é fator de organização social e que afeta diretamente as esferas da nossa vida, podemos afirmar que trabalho e desigualdade são fenômenos inter-relacionados. Isso significa que os trabalhos realizados, sua remuneração e o acesso ao consumo permitido por ele são diferentes e produzem ou reforçam desigualdades sociais. Mas o que é desigualdade social? Conceito de Desigua...

Trabalho na Contemporaneidade

Introdução O trabalho que sempre foi central para a sociologia ainda continua sendo atualmente, pois os sociólogos ainda se interessam em saber como as formas de mudança no trabalho afetam as várias esferas da nossa vida. Atualmente, por exemplo, os trabalhos não possuem as mesmas características que anteriormente apresentavam, pois se mostram mais flexíveis, inseguros, marcados por compromissos temporários e mudanças constantes. O trabalho não apresenta mais como antes uma segurança social e psicológica para grande maioria das pessoas O lugar do trabalho na vida social Apesar disso, ele ainda ocupa a maior parte das nossas vidas e estabelece boa parte da nossa biografia e trajetória pessoal. As mudanças trazidas pela modernidade fazem do trabalho um elemento de extrema importância para a autoimagem e também para a sensação subjetiva e social de respeito. O trabalho é então um elemento estruturante na nossa constituição psicológica e no nosso ciclo de atividades cotidianas...